sexta-feira, 17 de abril de 2020

HELENA

Ela se pegou mais uma vez pensando no passado... não no tempo quase mórbido de um relacionamento de águas calmas e previsíveis, acompanhado do abuso velado e de um isolamento inevitável que viveu espontaneamente por alguns anos. Ela lembrava das vezes que sentiu seu sangue pulsar, sua adrenalina subir da cabeça aos pés... tentava procurar na lembrança aquela mulher que pareceu adormecida por um tempo.

Reviveu os tempos de faculdade... a agitação na rua, as reuniões no boteco da esquina... André e Carlos eram os donos, ótimos anfitriões, o primeiro cheio de histórias, o segundo calado e observador, talvez os únicos que ela tenha poupado dos seus flertes na época.
As conversas eram regadas às partidas de sinuca, muitos cigarros e copos de cerveja que atravessavam a madrugada em diversas noites... Ás vezes, olhares mais insinuantes dividiam a noite com as bebidas também mais quentes.

A filosofia ocupava a sala de aula e o balcão... tinha lugar pra tudo menos para a monotonia. Como se dizia entre um dos assuntos das aulas.... Helena era pura vontade de potência... na maioria das vezes saía vestida disposta a provocar e determinada a caçar, não por ninguém mas por si mesma... queria terminar a noite nua e acordar cansada e renovada em alguma cama alheia.
A maior aventura ela viveu num romance, talvez mais adequadamente se chamarmos de "caso".... foram alguns meses, os meses mais intensos que vivera... se envolveu em segredo. Ela sempre o observou, aliás sempre observava tudo. Agora não se lembrava exatamente o que mais chamava a atenção para ele, se toda a liberdade que aspirava em seus discursos, se os olhares que ele tentava disfarçar respeitosamente nas curvas e no comprimento das roupas ou nas digressões libidinosas que descobriu que ele escrevia. Provavelmente tudo isso, um conjunto interessante que ele trazia pro seu mundo das ideias, descobertas que ela sentia que devia provar.

Helena tomou um bom gole de café e acendeu um cigarro na janela, por um instante acordou pra sua vida de mãe solo e dona de casa, nunca se esqueceu dessa garota que alimenta a mulher que se tornou. - E o que é hoje Helena? - se perguntou. Está em construção como sempre, e apesar de não se regojizar de tudo que viveu, se orgulha de tudo que conquistou. Essa garota decidida habita Helena, sempre esteve lá, e parece que está renascendo de alguma maneira, agora mais madura e cautelosa, com novos anseios e receios sim, mas repleta de vigor.

Entre um trago e outro, o silêncio da madrugada a faz voltar pra sua aventura. Senta-se na poltrona próxima a ela, inclina a cabeça para cima e fecha os olhos... lembra-se das mãos que a tocaram, dos lábios que já provaram seu corpo, de como se dava a seu próprio prazer...
Se concentrou nas cenas que lembrava daquele que a ensinou entre os livros no seu pequeno e aconchegante apartamento. Podia sentir a brisa vinda da janela tocar sua pele, seus seios estavam acordando. Recordou, que não pela primeira vez, tomou a iniciativa, nessa época através de mensagens instantâneas pelo celular, ela jogou a isca através das palavras e colheu uma reposta surpresa, mas interessada. Reviu na mente os encontros cheios de fantasias e devaneios dos dois, às vezes começavam entre olhares num restaurante, ou nas provocações disfarçadas civilizadamente na mesa: -estou sem calcinha hoje- o que fazia Pedro ficar excitadamente desconcertado, enquanto a mão na cintura dela na porta do elevador fazia ela suar entre as pernas e sentir um frio na barriga sufocante.

No meio dessa ansiedade, Helena abriu involuntariamente as pernas... erguendo sua nuca ela sentia o ar gelado da madrugada e mordia os próprios lábios pensando nas palavras ditas ao pé do ouvido por Pedro enquanto tirava sua roupa repetidas vezes em tantas tardes e pernoites. Na primeira vez ele não sabia como tocá-la, não queria ser ousadamente agressivo como fora em seu último relacionamento em que atendia a desejos sádicos, então a observava encantado por sua jovialidade, preferiu espiá-la com consentimento acanhado durante o banho, ele adorava sua pele, um cor bronzeada que lhe era natural, seu olhar seguia o caminho das espumas de sabão que passeavam por entre as curvas de Helena, ela sempre foi corpulenta e tinha ancas que sempre a fizeram segura de sua sensualidade.
Na poltrona as lembranças já traziam sensações mais inquietantes, tocava seus seios eriçados e sua pele arrepiada enquanto revivia os beijos, os afagos, as loucuras e taras divididas entre os dois. Ora as histórias que ele adorava que ela descrevesse quando havia estado com outros homens, os detalhes do sexo e do gozo que havia permitido que lhe retribuíssem, ora os diálogos incestuosos e as criações pecaminosas e promíscuas, como num prelúdio à Dionísio que a fizera confessar o seu desejo por uma colega de classe, ou mesmo os detalhes que Pedro lhe contava do prazer que tinha de olhar para entre suas pernas e a perceber úmida em seus pubianos que ele adorava ver crescidos. O calor a tomava, já estava nua, se tocava pensando em todo furor que viveram entre quatro paredes, na melancolia que a cobria de ferocidade, nos lábios de Pedro percorrendo seu corpo, em cada palavra que dizia a ele sem preconceitos de como havia se sentido com outra pessoa, o deixando cada vez mais louco quanto mais detalhes ela descrevia, em como também enlouquecia com ele, enquanto a penetrava e a dominava, num frenesi que a essa altura já estava em seus dedos por entre suas pernas. Helena suava e sentia o ápice se aproximar ao mesmo tempo que não queria parar de sentir aquele prazer imensurável que já estava entranhado em seu corpo, a respiração ofegante, o gemido incontrolável que tentava abafar, ela sentia como se Pedro estivesse ali, ele adoraria observá-la se provar como já havia feito antes, ainda mais sabendo o que a motiva, admirava atos viscerais como este. Ela então sentiu o descontrole se aproximar freneticamente sequenciado à fricção de seu clitóris rígido, sentiu-se totalmente molhada, fazendo-a explodir num orgasmo que nenhum homem a fizera sentir na vida, nem mesmo Pedro, uma satisfação pessoal inimaginável.

Antes de dormir, mais um cigarro e dessa vez um pouco de vinho para esquentar o frio que tomou conta de seu corpo quando se percebeu despida com dia prestes a amanhecer. Helena concluiu que ela é dessas mulheres, donas de si na vida, e de quem elas quiserem na cama.

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